Biografias

Clara Steuermann



Clara Silvers nasceu em Los Angeles, Califórnia, em 10 de fevereiro de 1922. Sua mãe, Sarah Silvers, cujo sobrenome de solteira era Nathanson, nasceu na Romênia. Seu pai, Samuel Silvers, nasceu na Polônia mas foi criado na Rússia. Durante os anos da Depressão trabalharam arduamente na drogaria que possuíam, para criar Clara, sua única filha. Apesar de ter passado grande parte de sua infância sozinha, parece que o fato de seu pai tocar violão despertou nela um interesse real pela música. Aos cinco anos iniciou seus estudos de piano com uma vizinha.

Seus estudos escolares foram realizados de maneira rápida e incomum, uma vez que era uma criança extremamente dotada e foi, por muitas vezes, colocada em classes adiantadas. Se isto foi bom para seu desenvolvimento intelectual, por outro lado dificultou totalmente seu relacionamento com seus colegas, que eram sempre invariavelmente mais velhos que ela. Pouco antes de terminar seus estudos primários de primeiro grau, Clara foi surpreendida pela morte prematura de seu pai.

Em 1934, aos doze anos de idade, iniciou seus estudos de segundo grau. Foi então que seus estudos musicais ganharam impulso. Além de organizar e acompanhar um coro, Clara começou a estudar música de câmara com uma professora muito especial, Ina Davis. Tornaram-se grandes amigas, tendo esta amizade se mantido até a morte de Clara.

Clara tinha apenas dezesseis anos quando terminou o colegial. Sendo considerada muito jovem para ingressar na universidade, matriculou-se num programa especial do Los Angeles City College, que tinha a duração de dois anos. Além de estudar piano e música de câmara, iniciou seus estudos de harmonia e contraponto. Conheceu, então, aqueles que viriam a se tornar os grande amigos de sua vida: Leon Kirchner e Earl Kim.

Ao completar dezoito anos, Clara pôde matricular-se na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), para estudar com Arnold Schoenberg. Sua opção era Teoria Musical, mas teve a oportunidade de estudar piano com Jacob Gimpel, o que foi determinante para sua formação. Ao mesmo tempo, complementava seu sustento trabalhando na Divisão de Música da Biblioteca Pública de Los Angeles. Em 1942 tornou-se uma das assistentes de Schoenberg , fato que permitiu que essa relação se tornasse menos distante e impessoal. Esses laços de amizade e confiança acompanharam-na por toda a vida. Schoenberg tinha uma característica mais formal, mas Clara sempre reconheceu sua maneira de manifestar um grande afeto por ela. Nessa época, dois colegas se tornaram figuras importantes na vida de Clara: Emil Danenberg e Erwin Stein. Em 1943 Clara e Stein apresentaram a primeira audição da versão de Schoenberg para dois pianos de sua Segunda Sinfonia de Câmara, na Universidade da
Califórnia.

Quando Clara obteve seu mestrado em 1944, Gimpel e Schoenberg sugeriram que fosse estudar piano em Nova Iorque com Edward Steuermann. Até então, Clara sempre havia morado na casa de seus pais, e a perspectiva de mudar-se sozinha parecia bastante tentadora. Tendo terminado seus estudos na UCLA, também já era tempo de tomar posse de seus conhecimentos e planejar as próximas etapas de sua vida profissional. Duas semanas antes de completar seu mestrado, escreveu para Steuermann apresentando-se e solicitando aulas. Esta carta continha também uma recomendação do próprio Schoenberg.

Clara chegou a Nova Iorque em março de 1944. Começou a trabalhar numa editora musical independente e também a ter aulas com Steuermann. Nesse verão Edward convidou-a a participar de um curso no Black Moutain College, perto de Ashville, Carolina do Norte, onde ele lecionava. Esta experiência foi inesquecível para ela, uma vez que lhe permitiu que conhecer e conviver com músicos como Rudolf Kolisch, Günther Schuller e Marcel Dick. Estes novos amigos não apenas abriram para Clara novas portas que a conduziram a uma nova dimensão musical, mas tornaram-se, a partir de então, uma espécie de ‘família’ que a acompanhou por toda a vida.

De volta a Nova Iorque, sua vida se resumiu à edição musical e às aulas com Steuermann. No decorrer dos próximos cinco anos, o Sr. Steuermann aos poucos foi-se tornando simplesmente Edward, e a relação aluna / professor se transformou num grande caso de amor. Casaram-se em 1949, totalmente contra a vontade de Sarah, mãe de Clara, devido à grande diferença de idade entre eles.

A partir de então, sua carreira foi colocada em segundo plano, uma vez que se dedicava quase que exclusivamente ao universo de Edward. Enquanto editora musical, Clara havia sido, durante anos, responsável pela edição de toda a obra literária de Schoenberg lançada nos Estados Unidos. Clara abandonou a publicação musical em 1951, ano da morte de Schoenberg, para se tornar assistente administrativa do Juilliard Opera Theater. Manteve este cargo até o nascimento de sua primeira filha, Rebecca, em 1956. Dois anos mais tarde nascia sua segunda filha, Rachel. A vida familiar adquiriu uma importância preponderante, os verões eram passados na Europa, aonde viviam as duas irmãs de Edward, Salka e Rosa, e aonde os compromissos de Edward com o ensino de piano podiam ser um pouco mais relaxados.

Em 1959, Edward começou a ter alguns problemas de saúde, e exames médicos constataram que tinha leucemia. Clara jamais revelou a verdade a Edward, mas viu-se, repentinamente, diante da possibilidade de ter de sustentar sozinha as duas filhas. Algum tempo antes tinha pensado em se tornar assistente de Edward, mas este foi absolutamente contra.

Clara então matriculou-se na Escola de Biblioteconomia Columbia em 1962 e completou seu mestrado em Ciências Bibliográficas em 1964. A morte de Edward, em novembro daquele mesmo ano, mudou drasticamente sua vida. Decidiu tornar-se bibliotecária a fim de assumir com mais segurança o sustento de sua família e, ao mesmo tempo, assegurar seu vínculo com o mundo musical.

No ano seguinte Clara foi assistente administrativa da Filarmônica de Nova Iorque. No verão de 1965 tornou-se bibliotecária assistente no Kingsburg Community College em Queens, Nova Iorque. Em setembro, foi nomeada para a Biblioteca da Juilliard School. Poucos meses depois, o diretor do Instituto de Música de Cleveland, Victor Babin, convenceu Clara a ir para lá e construir uma Biblioteca. Decidida a iniciar uma nova vida, ela aceitou.

Em agosto de 1966, Clara Steuermann mudou-se para Cleveland com suas filhas Rebecca e Rachel. Ao mesmo tempo que supervisionava as obras da nova biblioteca, começou a se envolver com a Associação de Bibliotecas de Música (MLA). Por um breve período, continuou a dar aulas de piano para alguns alunos de Edward. Estas eram suas principais atividades quando foi convidada a co-dirigir o Music Library Institute, Ken State University, nos verões de 1969 e 1970.

Sob a direção de Clara, a biblioteca do Instituto de Música de Cleveland tornou-se um acervo organizado e extremamente atualizado. Seu envolvimento com a Associação das Bibliotecas de Música cresceu igualmente. Foi eleita presidente da Associação em 1974. Neste mesmo ano seria comemorado o centenário de nascimento de Schoenberg. Os planos para a fundação do Instituto Arnold Schoenberg na South Califórnia University começavam a se delinear. Clara foi a primeira pessoa a ser cogitada para ocupar o cargo de arquivista, não apenas pela sua experiência enquanto bibliotecária de música, mas por sua grande proximidade com o conjunto da obra de Arnold Schoenberg. A oportunidade de organizar o arquivo de Schoenberg se apresentava ao mesmo tempo como um privilégio, um desafio e uma tarefa de enorme dificuldade para ela. Em agosto de 1975 ela retornou à Califórnia, empolgada com a possibilidade de concretizar o projeto de criar o Instituto Schoenberg.

O Instituto foi criado temporariamente na California State University em Los Angeles. Ao mesmo tempo, Clara lutava para que a Associação se tornasse uma entidade internacional.

Em 1977 o Instituto Schoenberg mudou-se definitivamente para a South California University, permitindo que Clara ali criasse um centro de pesquisas admirável. Organizou a coleção Schoenberg e orientou inúmeros estudantes em seus projetos de pesquisa. Através do Instituto, Clara pôde compartilhar aquilo que chamava de ‘tesouros do instituto’ com o público.

Em 1979, uma oportunidade para lecionar novamente se concretizou por meio de um convite do Clairmont College. Ali, ministrou um curso sobre Arnold Schoenberg, mas a vida continuava afastando-a de seu maior desejo: lecionar seu instrumento. Suas responsabilidades levavam-na a escrever cada vez mais, especificamente para o jornal da Associação das Bibliotecas de Música. Em outubro de 1980, depois de viajar por dois meses pela Europa, Clara passou trinta dias na Itália como professora visitante no Centro de Estudos de Bellagio, da Fundação Rockefeller.

O ano seguinte trouxe outra oportunidade para Clara: o cargo de consultora dos arquivos do Metropolitan Opera de Nova Iorque. Foi também o ano em que começou a sentir dores persistentes, diagnosticadas como dores ciáticas. No final de junho de 1981 foi convidada a trabalhar definitivamente no Metropolitan Opera, e a idéia de voltar a morar em Nova Iorque era muito tentadora.

Entretanto, sua dores pioraram e sua saúde se deteriorou, e um câncer pulmonar em estado avançado foi detectado. Em agosto, Rebecca e Rachel vieram juntar-se à mãe em Los Angeles, conscientes de que não lhe restava muito tempo de vida. Em novembro foi lançado um disco com composições de Edward Steuermann, organizado por ela, depois de incansáveis batalhas, juntamente com o violinista Paul Zukovsky.

Clara, depois de lutar contra sua doença, morreu no início de janeiro de 1982.

Clara Steuermann teve como projeto de vida, fazer com que a obra de seu marido, Edward Steuermann, enquanto pianista, compositor e professor, se tornasse conhecida. Não foi bem sucedida nesta missão pela incompreensão, rigidez e conservadorismo da cultura musical norte-americana. Mas a semente foi, de qualquer maneira, lançada e há de frutificar. Há pouco mais de um século atrás, outra Clara empreendeu luta semelhante e venceu. Caberá a outros continuar. E vencer.